O que falarão de mim depois que eu morrer? Será que dirão que fui uma boa filha? Uma boa mãe? Uma irmã carinhosa e atenciosa? Passamos a vida inteira fingindo não nos importar com o que as outras pessoas pensam ou falam de nós, mas e depois que morremos? Será que importa?
Não importa o que vão dizer, pois o que quer que digam de mim depois da minha morte será mentira.
Não fui a filha exemplar, nunca gostei de obedecer ordens, fui pirracenta e rebelde. Como todo filho, achava meu pai um herói, minha mãe era uma rainha, eram as pessoas mais perfeitas do mundo, mas quando a gente cresce vê o mundo, e as pessoas sob uma ótica diferente. O engraçado é que você passa praticamente uma vida inteira tentando ser diferente de seus pais, para um dia descobrir que você é exatamente igual a eles, que você tem a mesma postura, as mesmas atitudes, e não se envergonha disso, pelo contrário, tem orgulho.
Nunca fui uma boa mãe, a maternidade é mais do que eu poderia imaginar e por mais que eu ame minha filha, sempre acho que meu amor não é suficiente, sempre acho que deixei algo a desejar e que poderia ter amado mais, poderia ter feito mais, não sei em que ponto me perdi e comecei a fazer tudo errado, mas nunca fui a mãe que imaginei ser.
Como todo filho do meio, fui carente. A minha vida inteira. E toda pessoa carente tenta chamar a atençao das pessoas de alguma maneira. Nunca fui bela, então a única forma que encontrei de chamar a atenção para mim foi tentando parecer inteligente. Durante muito tempo fingi ser inteligente, e fingia tão bem que enganava até a mim, mas a vida tratou de me ensinar que eu não nunca fui assim tão inteligente e, desapontar as outras pessoas até que não dói muito, o que machuca mesmo é desapontar a si mesmo...
Eu acreditava nas pessoas, acreditava na bondade, que por pior que a pessoa fosse, ela tinha também um lado bom. Acreditava que se eu fosse amiga de uma pessoa, ela seria minha amiga também e se eu não fizesse mal a nenhuma pessoa, ninguém me faria mal também. Ingênua, eu? Não. Idiota. Cega. Um dia consegui enxergar o quanto as pessoas podem ser más, o quanto uma pessoa pode, conscientemente, prejudicar outra. Senti na pele, não uma, mas várias vezes. Aprendi a lição? Não. Continuei acreditando nas pessoas, e quebrando a cara.
Tive sonhos. Vários sonhos. Alguns eu realizei, alguns eu abandonei, outros foram arrancados de mim, de forma cruel, como se eu não merecesse sonhá-los. O que ser quando crescer? Nunca soube. Quis ser médica, advogada, adminstradora... Só tinha uma certeza em toda a minha vida: jamais seria professora! Por ironia da vida, me tornei professora, mas tenham certeza de uma coisa, a cada aula que dei, morri um pouquinho e não há nada pior do que morrer aos poucos.
Quando eu morrer, não precisam mentir a meu respeito. Podem falar a verdade! Podem dizer que eu fracassei. Digam que eu tentei ser uma boa filha, tentei ser uma boa mãe. Tentei ser inteligente, não acreditar tanto nas pessoas e me acertar profissionalmente, mas é difícil acertar o caminho quando não se sabe onde quer chegar.
Poderá ser difícil falar de mim, por isso vou ajudar vocês: falem que eu fui tímida, que gostava de flores, de bichos, de ler, dançar e sonhar. Falem que apesar de todos os tombos que a vida me deu, eu gostava de viver, mas munca tive medo de morrer.
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